Tuesday, June 06, 2006

V.A.R.I.G. Auf Wiedersehen

Uma vez um alemão me disse que VARIG significava Vários Alemães Reunidos Iludindo Gaúchos. Ilusões à parte, o prometido e procrastinado leilão da aérea em nada fica a dever a um espetáculo de David Copperfield, ilusionista capaz de dar um sumiço na Estátua da Liberdade.

O leilão agora programado oferece, pelo lance mínimo de US$860 milhões, a Varig Operações, abrangendo a totalidade das linhas da empresa, nacionais e internacionais, ou numa proposta alternativa, a Varig Regional, pelo lance inicial de US$700 milhões.

Alegando a necessidade de atrair investidores, as instâncias judiciais encarregadas do processo que avalia a insolvência da empresa declararam que o arrematador não levaria no embrulho as dívidas da aérea, hoje algo por volta de 8 bilhões de reais. Realmente, não há necessidade de mestres do óbvio para nos dizer que ninguém pagaria coisa alguma para ficar, no final, devendo o triplo do que pagou. Mas começam a surgir perguntas: para onde vão os 8 bilhões? Para um limbo contábil, para liquidação sine die? Eu realmente não gostaria de ser credor da VARIG. Se hoje a empresa não consegue liquidar seus compromissos, como será quando já não possuir estrutura operacional? E os créditos da companhia? Os 4 bilhões em haver do governo federal, referentes a perdas por congelamento de tarifas durante planos econômicos. E o 1,3 bilhão a receber dos estados por cobrança indevida de ICMS? Se não estão no pacote a ser arrematado no leilão, é claro que passam a integrar o balaio contábil onde ficarão os presdigitados 8 bilhões de reais. É bom lembrar que boa parte desse passivo é formada por débitos trabalhistas, que motivaram a liquidação extrajudicial do fundo de pensão dos funcionários da VARIG - o Aerus - parece que se aposta que para manter o emprego de parte do quadro funcional, os funcionários estariam dispostos a fazer de conta que seu fundo de pensão não virou fumaça.
E os 800 milhões de dólares a serem arrecadados no leilão serão direcionados a quem? À Fundação Ruben Berta, que detinha o controle da empresa? Acreditamos que não, afinal foi o estilo gerencial da fundação que levou a empresa ao hangar em que se encontra. Então para quem? Não sabemos, não se comenta, parece não ser relevante. Será feito o balanceamento dos créditos com os débitos pelos governos? Em caso positivo, não seria uma forma de burlar a preferência na liquidação de dívidas numa evitada falência? São muitas perguntas e até agora apenas uma certeza: os grandes perdedores são os funcionários da Varig. Embora a continuidade da empresa signifique a manutenção de parte dos postos de trabalho - sempre fala-se numa parte -os funcionários perderam a gestão da companhia (que era exercida através da Fundação Ruben Berta) e a sua previdência complementar.
O governo passa a ter uma maior tranquilidade na amortização de suas dívidas para com a empresa (afinal desaparece a pressão social para o acerto de contas). Numa manobra para mágico nenhum botar defeito, somem os responsáveis, aqueles que tomaram e os que cederam os créditos que hoje perfazem os tais 8 bilhões de reais. Magnífico espetáculo para um palco. Após cair o pano, com certeza, constituirá jurisprudencia aplicável a casos semelhantes, de empresas que consigam ficar devendo várias vezes o seu valor. Vamos leiloá-las todas!

Monday, June 05, 2006

Da Vinci: Conferido

Mais de duas semanas após o lançamento, o filme O Código da Vinci continua vendendo bem. Os 40 milhões de leitores do livro esperam ver nas telas as cenas presenciadas na imaginação. Dá para sentir que o diretor Ron Howard fêz o que pode, mas não chegou lá. Seria preciso mais do que uma mente brilhante para condensar as 400 páginas da trama escrita em 2 horas e 29 minutos de filme. O resultado foi um imenso trailer, dificilmente compreensível para quem não leu o livro. O romance escrito prende o leitor pelo suspense, os eventos criam uma constante expectativa pelo que virá a seguir, é o que segura o leitor até a última página. No filme, a mesma sequencia de eventos tem o efeito oposto, é uma sucessão de fatos inesperados que quase se atropelam num ritmo rápido e inconsequente, perde-se tempo com cenas que, na adaptação, deveriam ter sido eliminadas. Como exemplo podemos citar a claustrofobia do Prof.Langdon. No livro ela é sugerida no decorrer da estória, preparando o leitor para uma situação de aprisionamento que seria terrível para uma pessoa normal, quanto mais para um claustrófobo. No filme vemos as raízes da claustrofobia de Langdon, mas seu desconforto não vai além de um passeio de elevador com o chefe da polícia francesa. A própria construção dos personagens deixa a desejar; Tom Hanks faz o papel principal com a desenvoltura de um figurante, o capitão Fache é transformado em um descerebrado instrumento nas mãos de um bispo indiscreto, incapaz de manter segredo quanto às confissões feitas por simbologistas norte-americanos.
O livro não é perfeito, em alguns momentos a trama extrapola o plausível, e a mão do autor torna-se visível, mas, comparando, o resultado final é infinitamente superior ao que foi apresentado nos cinemas. Talvez um dia tenhamos um remake.