Saturday, January 29, 2011

Marilene Felinto e a Paraíba

Imagens do subdesenvolvimento por Estados

MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

Paraíba: para que escrever em um jornal se a Paraíba não lê jornal? A Paraíba não lê jornal. O povo meio abestado não sabe de nada, nunca soube.
No aeroporto de João Pessoa -a capital da Paraíba-, procurei por um jornal na única banca existente ali. A mulher disse que não havia porque não há.
- Como assim, "não há"?
- Não tem.
- Mas nem os jornais da Paraíba?
- Não. Antes eu trazia. Mas como aqui só tem um vôo por dia, parei de trazer porque ficava aí, não vendia.
Não tinha jornal algum, de nenhum lugar do mundo. O aeroporto de João Pessoa é sujo, tem moscas, as vidraças são cheias de manchas de gordura e faz um calor dos quintos dos infernos porque não tem ar-condicionado. Parece uma rodoviária de cidade do interior.
Como era dia de domingo, o aeroporto estava repleto de matutos vendo avião subir e descer. Povo pobre, meio mal alimentado, meio mal-educado, fazendo algazarra, menino correndo para todo canto.
São sempre umas famílias, uns homenzinhos pequenos e umas mulherzinhas pequenas, exibindo seus bebês como se fossem troféus. Todo mundo vestindo roupa de domingo, mais ou menos pobres.
Havia ainda as caricaturas de classe média -a pior espécie-, os homenzinhos empunhando celulares, agitando no ar as chaves dos automóveis. Alguns tinham filmadoras. Uma imitação de riqueza. Uma gente burríssima.
Aquilo ia provocando uma mistura de irritação com pena, uma vontade de preconceito declarado. Mas aí, bastava olhar em outra direção para enxergar uma placa hipócrita: "Sala de Autoridades".
Autoridades? Autoridades o caramba. Autoridade sou eu, dava vontade de dizer. A sala certamente abrigava a corja de corruptos nordestinos, a gente VIP daquela miséria de Estado. A Paraíba é dominada há décadas pelos Cunha Lima da vida, como Pernambuco é pelos Inocêncio de Oliveira, esse tipo de câncer político nordestino. E o povo -sugado, esfolado- não sabe de nada.
São Paulo: em São Paulo a realidade é outra. Basta desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos e ir percorrendo de carro a marginal do rio Tietê. O rio Tietê é um amontoado de cocô cercado de lixo e mato por todos os lados. A marginal do rio Tietê, salpicada de favelas de ponta a ponta, deve ser a avenida mais feia do mundo.
De São Paulo à Paraíba, o Brasil é subdesenvolvido em todo lugar. Aqui, o subdesenvolvimento tem nomes estrangeiros, como Maluf (que, graças a sua sensibilidade de concreto armado, mandou construir na cidade o viaduto mais feio do mundo: o Minhocão). Cada vez que sobe um malufista no governo, São Paulo enfeia drasticamente. São altos índices de incompetência e corrupção no poder. Está ficando uma das cidades mais feias e subdesenvolvidas do mundo.
O Brasil é subdesenvolvido em todo lugar. No mais, é o seguinte: jornal não adianta. A Paraíba não lê. Pode esquecer.

© FSP - 1998

Wednesday, January 19, 2011

Friday, January 14, 2011

Tuesday, January 11, 2011